Wednesday, July 12, 2006

** Ler, escrever e Flusser **

Pois é.. faz tempo não é?

Andei muito ocupada ultimamente, mas parece que escrever é como uma sarna... a gente tem ganas de escrever e fica chateada quando não consegue. Coceira que quanto mais se coça mais coça.

Outro dia estava desencavando uns livros (em um daqueles ataques de organização que me assaltam vez por outra) e achei um que era de meu ex-maridão e que ele deve ter esquecido de levar quando saiu de casa... e aqui ficou em minha estante por mais de 10 anos. Lembro-me que ele gostava do livro e do autor (Vilém Flusser), mas eu sempre achei o gajo meio esquisito... Vai ver que não tinha maturidade suficiente para compreendê-lo. Eu era muito pau, pau, pedra, pedra, entende? Cientista demais.

Bem, quando comecei a folhear o empoeirado livro o danado me "pegou"... De repente deparei com um capítulo que vale mencionar agora, que ando com mais vontade de pensar, me soltar, escrever: "O Amor ao ler e escrever".

Nesta parte do livro Flusser comentava que "A luxúria que se sublima no amor pela língua materna adquire o seu caráter mais radical quando essa língua for lida ou escrita". Nada mais verdadeiro.

Flusser crê que o ler e o escrever é a manifestação mais violenta e diabólica da luxúria e por isso ele resolveu dedicar todo um capítulo lindo a isso.

Segundo ele "toda a tentativa de cosmovisão é autobiográfica, mesmo quando se tenta escondê-la", embora não haja razão para esconder pois isto não é nenhum defeito!

Acredita Flusser que uma autobiografia tem um significado muito mais geral que a primeira parte da palavra –auto– implica. O que prevalece mesmo é a sílaba "bio" pois o que chamamos de "nossa experiência individual" não é algo tão característico e nosso quanto em geral acreditamos.

Em outro trecho que me calou e que transmite algo que sinto, mas que nunca havia antes percebido claramente, ele escreve "A mente inspirada pela luxúria de ler nada numa correnteza praticamente infinita de livros. Os livros são os objetos de seu desejo libidinoso" ... e lá vai ele tecendo suas considerações sobre a leitura... E eu cada vez mais apaixonada pela leitura concordo quando ele diz que a leitura é um veneno que age de mansinho, e que em pequenas doses age apenas como um estimulante: escolhemos um livro e à primeira página desse livro começa a pingar o doce veneno em nossas mentes. Abrimos a mente e deixamos passivamente nos levar pelas palavras e pensamentos do autor. Somos levados... leia-se seduzidos, passivamente pelo livro. Quando chegamos ao fim, fechamos o livro e nos sentimos desamparados... ... que instante lamentável... como o do amante que se vai. Aquem sabe seja por isso que devoramos as primeiras páginas de um livro e no finzinho queremos que renda cada vez mais... vamos lendo bem devagarinho.

Mas como leitora contumaz não fico satisfeira e pego um segundo livro: a luxúria de ler foi incentivada pela primeira satisfação obtida.

Bem... outro dia comento mais sobre o que acontece ao tomarmos nos braços... nas mãos... na mente o segundo livro.

Fico devendo!

1 comment:

Anonymous said...

Oi Lúcia,
Que bom que vc está apreciando o Flusser, o livro seria "A História do Diabo" que a Luiza leu?

Beijos,
Charles