Friday, July 21, 2006

Promessa é dívida...

Isto é um mal meu. Palavra dada, em meu dicionário, é sinônimo de palavra cumprida. Se não cumpro, um sentimento de culpa começa a se erguer como uma nuvem pesada sobre mim, vou ficando mais e mais aflita até que o melhor a fazer é cumprir. Coisas da educação que tive... influência principalmente paterna. Um dia falarei mais sobre meu pai querido que se foi há pouco mais de um ano. Pronto... lá me impus mais uma promessa.

Mas vamos lá... Fiquei de falar sobre a febre de pegar um segundo livro. O segundo livro em geral trata de algum assunto próximo ao tratado no primeiro livro, ou tem um estilo semelhante ou ainda foi escrito pelo mesmo autor. Seg. Flusser, assim funciona a "curiosidade", sinônimo da luxúria da mente. Quanto mais lemos sobre um determinado assunto, ou escrito por determinado autor, mais queremos ler. Quanto mais sabemos, mas sabemos que nada sabemos. É como sexo... é como a gula... a insatisfação crescente criada pela satisfação é a característica do estado de luxúria ou da gula. Apesar de lermos o segundo livro, o qual tem alguma afinidade com o primeiro, nossa reação não é mais a mesma. É menos intensa.. perdemos a virgindade e somos mais críticos e preconceituosos. Mais exigentes... Nossa mente oscila entre o segundo livro e o primeiro... e depois partimos para o terceiro... o quarto... É aqui que pode começar uma grande de interligação de temas.

Havia lido "As Intermitências da Morte" de nosso querido autor português Saramago. Como a maioria de vocês sabe, trata-se do tema morte e ausência da morte. Cansada de ser detestada pela humanidade, Dona Morte resolve suspender suas atividades. De repente, num certo país imaginário, as pessoas simplesmente param de morrer. O que no início provoca um verdadeiro clamor patriótico logo se revela um grave problema. O melhor livro que li este ano!

O que se seguiu foi o "Assassinatos Na Academia Brasileira de Letras", de Jô Soares. Um autor de língua portuguesa, também, mas aqui D. Morte trabalha incessantemente. O título do livro já diz quase tudo: trata-se da história de um homem da lei, Machado Machado, em sua tentativa de desvendar os crimes que saltaram do livro de um acadêmico para a realidade do Rio de Janeiro, na década de 1920; a fantasia ganha o corpo de um assassino serial, e a Academia Brasileira de Letras começa a sofrer baixas em seu time titular.
Veja então o livro que se seguiu: "Um lugar entre os vivos", de Jean Pierre Gattégno, por sinal muito bom. Trata-se de um "thriller" sobre um escritor, Ernest Ripper, que encontra um sujeito que se apresenta como sendo o estrangulador de mulheres que está em todas as manchetes e lhe faz uma proposta: quer que Ernest escreva suas memórias. Assim começa uma trama que foge aos lugares-comuns, pois já temos o criminoso e resta saber se Ripper vai conseguir escrever o livro até o fim.
Aí deu-me os cinco minutos de ler mais um "thriller"... desta vez foi o Paciente 67, de Dennis Lehane (o mesmo autor do livro em que o filme "Sobre Meninos e Lobos" foi baseado). Trata-se da história de um xerife que chega a uma ilha pratocamente deserta com seu novo parceiro de trabalho Chuck. Nessa ilha está plantado um hospital psiquiátrico e os dois deverão investigar a fuga de uma interna desse hospital reservado a pacientes criminosos. Sem deixar vestígios, a assassina escapou descalça de um quarto vigiado e trancado à chave. Bem... melhor não ir mais adiante...

Após essa série de livros com estórias tão inusitadas, fiquei então curiosa sobre como os escritores esboçam sua escrita, como funciona nossa imaginação para o "creative writing". Não deu outra... o livro que então sucedeu ao "Paciente 67" não mais é um livro de ficçao mas sim sobre os bastidores dos livros...

Bem outro dia continuo falando sobre este livro ... que já está me fazendo continuar com outro sobre o mesmo tema.

De qualquer forma, acho que consegui ilustrar como funciona essa interligação de temas.

Não sei se isso acontece para a grande maioria das pessoas, mas é assim que vem acontecendo comigo.

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