Sunday, November 04, 2007

--O golpe manjado, meus nervos em frangalhos --

Sofri um golpe muito difícil de esquecer. Mal consigo rememorar para aqui expor sem sentir os nervos todos se retesarem, o pescoço ficar duro e uma ligeira náusea. Para evitar escrever tudo de novo, faço apenas uma cópia ligeiramente modificada do e-mail que Joaninha escreveu aos amigos dela, que reflete o que aconteceu.


O golpe é velho (depois de um mês pode-se dizer que se torna obsoleto qualquer golpe de estelionato organizado pelo PCC, Comando Vermelho e etc, já que outros muito mais sofisticados surgem na praça). E este é velho mesmo: no meio da madrugada, teu telefone toca e alguém grita: "mamãe! mamãe! me ajuda!". Se você não tem filhos ou se os teus
estão nos braços de Morpheus no quarto ao lado, você faz 'tsc tsc', vira e dorme. Se você tem filho (a), poderá achar que aquela voz desesperada é a dele (a). Pudera: voz chorosa é um pouquinho diferente da real. Segundo o policial: "voz de moça chorando é tudo meio igual".
Sono misturado com susto e qualquer semelhança no timbre vocal, pronto: o enredamento tá quase no papo. Depois, um sujeito assume o telefone e avisa que seu filho (a) foi sequestrado. Se você cair na lábia, começa a novela de pedidos de dinheiro, cartão telefônico, jóias,
eletrônicos em troca da vida do teu filho.

Nada de novo, certo? Nada. Mas, a despeito de tanta divulgação, por que o golpe continua sendo aplicado? Porque funciona. Simples assim. Segundo o policial, a cada cinquenta telefonemas, dois dão certo. Por que uma pessoa, mesmo que informada cai nessa? Porque a coisa é muito bem feita.

Mais do que isso: os golpes são refinados a todo momento, de modo que ele virá com alguma pequena variação que fará você pensar: "o que garante que não é um golpe e ele está mesmo sequestrado?". Por que a mãe/pai não desliga o celular e antes de entrar em pânico ligam para o filho? Porque os caras não te deixam desligar, sob ameaça de morte do filho. E na tua cabeça passará: "e se o celular dele (a) tocar ao lado deles? eles matam". Você simplesmente não checa. Além disso, discernimento e senso de obviedade funcionam em condições normais de temperatura e pressão. Não nessas. E, que quando se trata de pais/mães, menos ainda. Não menos importante é a possibilidade (fantasiosa, ok) do sequestro ser real: segundo o policial muitas notícias de sequestro começam de forma parecida (embora o desenrolar seja tecnicamente muito diferente).

E quando o golpe é duplo? Para a mãe: "tua filha e seu namorado foram sequestrados". E para você: "tua mãe foi sequestrada".

Resumo da ópera: na hora "H", nem sempre o que se lê e se sabe controla teu comportamento. Com isso, acho que vale a pena também divulgar o que fazer quando há a
desconfiança sobre ser ou não ser golpe: pegue um pedaço de papel e peça para a pessoa do lado (ou o porteiro, ou o frentista) ligar para o suposto sequestrado (certamente, se estiver sequestrado de fato, já terão ligado desse celular ou aceitarão a chamada com todo prazer). Peça a alguém que fale com a polícia o mais breve possível para que ela possa dar orientações. Procure pedir a alguém que contate as pessoas mais próximas e as deixe em sobreaviso. Outra coisa: eles trabalham com o efeito exercido por um celular ligado o tempo todo a eles para tentar que a vítima não se comunique com o sequestrado (sob a ameação de matar o seqüestrado se vc. desligar o fone). Ademais, mesmo que você desligue o celular, eles continuam ligando incessantemente no celular até acabar a bateria. Então, procure levar o carregador caso resolva sair de casa para tentar resolver algo (ou fazer um B.O).

Ah! E respire. Vamos lá. Técnica para ansiedade: inspira em quatro tempos, segura quatro, solta em quatro, espera mais quatro. Devagar pra não dar tontura. A outra possibilidade para quem quer (e pode) é pensar muito bem antes de escolher entre "ame ou deixe-o" e, então, dirigir-se o mais rápido possível para o aeroporto (desculpe a agressividade da última frase, mas quando é tua vez, é irresistível).

Pois é. Foi isso o que conosco aconteceu.
No meio disso tudo tive meu notebook extorquido, onde constava o telefone/endereço e/ou e-mail de muitos amigos, colegas e clientes. Havia também os números das agências e das contas corrente onde tenho minhas poucas aplicações. Felizmente nada de senhas...

Last but not least.. Tiro o chapéu para a Polícia Rodoviária. Gentil, pronta para ajudar, eficientes e humanos. Basta dizer que como nosso dinheiro estava acabando, um deles sacou R$20,00 do próprio bolso para que pudéssemos ter um extra para pagar os pedágios de volta.

Tiro o chapéu para Neal. As atitudes de Neal me deixaram agradecida e emocionada para o resto de minha vida. Ele esteve presente o tempo todo me ajudando e em certo momento oferecendo a própria vida por mim... uma história que contarei quando estiver menos traumatizada.

Espero ter coisas mais prazeirosas a contar em futuro breve.
Na próxima sexta-feira estarei mudando (sim! gerúndio no local certo agora!) meu escritório para casa. Mais uma fase de adaptação e depois espero poder sossegar por algum tempo... Haja coração.

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